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alunos, amador, bailarinos sem preconceito, biotipo para a dança, comparação na dança, crianças, peso, professores
AVISO: Leia com cuidado!
Como tratar desse assunto tão delicado com as nossas crianças?
Hoje tendo passado dos 30 anos de idade, percebi o quanto o ballet que eu tanto amo, acabou danificando mais a minha cabeça do que meus ligamentos.
Em uma turma de 15 alunas, eu era a única considerada fora do peso e fui mais julgada por esse fator do que pela minha técnica que, modéstia a parte, era boa!
Com apenas 12 anos de idade fui expulsa da sala de aula por ser considerada gorda demais para participar de uma nova coreografia e já ouvi comentários maldosos do tipo “Como deixam uma baleia dessa fazer parte do Festival?”.
Não estou aqui para “mimizar” sobre os meus traumas de bailarina, mesmo porque ganhei reforços positivos de pessoas muito mais importantes e humanas como Jorge Peña, Roseli Rodrigues, Toshie Kobayashi, Fernanda Chamma e Eduardo Bonnis, mas também não quero que pareça que o peso não importa…
Peso importa sim, principalmente se considerarmos que um bailarino também é um atleta e a saúde do seu corpo é essencial; porém, como abordar esse assunto sem causar um problema ainda maior como a distorção de imagem!?
Só hoje eu percebo que talvez eu não fosse uma criança gorda, que talvez eu só fosse diferente do biotipo “bailarina clássica”. A minha convivência com pessoas extremamente magras me fez crer que eu era obesa, me fez detestar a minha figura e me comparar eternamente com o resto dos seres humanos, lutando para perder um peso que não era resultado de uma alimentação ruim. Ainda hoje luto diariamente contra esse legado dos meus anos de ballet…
É certo exigir uma figura longilínea e magra de uma criança em fase de crescimento?
Como podemos ser tão impiedosos com uma pré -adolescente, cheia de hormônios e novas descobertas?
Eu sei que um tutu não valoriza o corpo das mais cheinhas com suas coxas grossas e seios grandes, mas essa é uma questão para lidar apenas se a criança estiver decidida a seguir uma carreira no ballet clássico, e isso só podemos descobrir depois de alguns anos.
Vejo muitas adolescentes desmotivadas a continuar o ballet ao ler notas em avaliações como: “Tomar cuidado com o peso”. Quão gorda a criança realmente é a ponto de prejudicar sua própria integridade física? O que leva um jurado ou avaliador a escrever isso? Será que ninguém para e pensa o quão nocivo pode ser esse comentário?
É esse tipo de bobagem que acaba desestimulando crianças e adolescentes apaixonadas pela arte da dança.
O Ballet Clássico é a base das danças acadêmicas e é necessário para que um bailarino tenha uma técnica impecável, mas isso não é motivo para desencorajar uma aluna que vai bem em outros estilos só porque ela não fica bem de Tutu! Temos que encorajar nossos alunos a comer direito, a se exercitar, a ser saudável, a se fortalecer para poder usar seu corpo a seu favor.
Quem sabe assim teremos bailarinos mais saudáveis, felizes e sem paranoias?
Bom Dia!!!
Thais Mello